O Outro do Outro


Ficção de si

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Já faz algum tempo que queria voltar a escrever uma nota pessoal neste blog. Falar do trabalho, dos caminhos, das pessoas e reviravoltas deste processo, mas não é tão fácil assim.

Depois de muito andar às voltas com “os outros” em mente (no corpo, claro!), cheguei a um ponto que me parece prévio a esta questão, trata-se da própria idéia de identidade, de como a percebemos, de como construímos e desconstruímos as nossas representações, e as representações dos outros, de como somos múltiplos. E, sim, de como nos relacionamos.

Antes de pensar em esclarecer qualquer “princípio de identidade”, percebo neste trabalho o interesse em questionar os padrões de reconhecimento e identificação, ativar uma visão crítica sobre a idéia de identidade. O que entendemos por esta palavra? O que ela implica? Como podemos construir a nossa história uma vez que hoje podemos reconstruir nossos corpos e identidades? “Toda a utilização da noção de identidade começa por uma crítica desta noção” (Lévi-Strauss).

Durante um período intenso de trabalho com a dramaturga Rita Natálio, experimentamos diversas possibilidades de composição, levantando questões e buscando desenvolver uma estrutura performática com contornos que se interroguem. Relações variadas acontecem no fluxo entre enunciação, ação e imaginação. A comunicação e seus detonantes.

Surge o interesse pelas biografias, memórias, vozes, gestos, palavras, rostos e nomes. Penso nas pessoas. Penso nas subjetividades flexíveis, e me fascina o lugar físico que é a imaginação, aquilo que nos permite ler e compor, porque já sabemos que a imaginação habita na percepção, e inversamente.

E o trabalho vai acontecendo, através da presença, da escrita e leitura, dos desdobramentos, à procura de sutilezas e de uma relação direta com o outro. As questões vão se abrindo em outras e o próprio lugar da linguagem inunda este processo de dúvidas e aprendizados. A cada ensaio surgem novas possibilidades, e através dos limites pessoais surgem descobertas. A cena se revela um lugar aberto, destinado a relações e transformações. Aqui viramos outros, uma e outra vez.


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